No Products in the Cart
Acordei como qualquer pessoa normal: despenteado, com uma chávena de café numa mão e a dignidade por um fio na outra. Mas eis que, entre um gole e um bocejo, vejo o impensável — o meu Funko Pop do Batman a ajeitar a capa como quem se prepara para salvar Gotham… ou ir às promoções do Pingo Doce.

1. O Convite Irrecusável
Achei que ainda estava a sonhar, mas não. O pequeno justiceiro estava decidido. Farto de acumular pó na prateleira, resolveu que era hora de ver o mundo real — e nada diz “aventura urbana” como um supermercado cheio, uma velhota a discutir o preço dos iogurtes e uma criança a berrar por gomas.
Pensei em ignorar. Voltar para a cama. Fingir que não vi nada. Mas ele já estava na porta, braços cruzados, com aquele olhar de “ou vens ou vou sozinho”. Quem é que consegue discutir com um Funko Pop de 10 cm que tem mais presença do que eu numa reunião de condomínio?
Enfiei-o no bolso do casaco — claro que ele protestou, disse que era “indigno de um Cavaleiro das Trevas”, mas lá se calou quando lhe prometi que podia escolher o sabor das batatas fritas. Chegámos ao supermercado e foi logo uma vergonha. Começou a dar sermões às pessoas na fila da padaria porque não respeitavam a distância de segurança. Fez uma cena épica ao lado das bananas, dizendo que aquele era o seu “novo esconderijo”. Quase o perdi no corredor dos cereais — estava a tentar recrutar o boneco da caixa dos Chocapic para ser seu parceiro.
Estava eu a tentar escolher entre pizza quatro queijos e pepperoni quando o Batman congela no meu bolso, vira lentamente a cabeça e sussurra, com aquela voz grave e carregada de drama:
“Heisenberg.”
Olhei para a frente e lá estava ele. Não estou a inventar. Walter White — chapéu preto, óculos, aquele ar de quem sabe exatamente onde está a metanfetamina escondida… parado entre as pizzas como se estivesse a escolher entre a Dom Rodrigo e a destruição da DEA.

O Funko Pop do Batman salta do bolso (literalmente, não sei como) e pousa bem no meio do chão frio do supermercado, numa pose de combate. Algumas pessoas olharam, mas voltaram aos seus iogurtes. Tudo isto é extremamente estranho, mas nada é suficientemente estranho para parar alguém com pressa. — O que estás a fazer aqui, Walter? — pergunta o Batman, apontando o mini-batarang de plástico que vinha no pack colecionável de 2018. Walter nem pestaneja. Pega numa pizza de pepperoni, olha para ela como se fosse um barril de produto azul e diz: — Estou a cozinhar.
Eu? Eu só queria pão e leite. Mas não. Agora estava ali, entre duas figuras pop-culturais a discutir planos secretos numa guerra imaginária de supermercado. E claro, eu sou o figurante que carrega o cesto das compras.
A tensão aumentava. O Batman ameaçava com um “vou chamar o Robin”, ao que Walter responde com um “o Jesse está no carro com o motor ligado”. No fim, chegou uma senhora com um carrinho, olhou para os dois e disse: — Desculpem, posso só tirar uma pizza de fiambre? É que estou com pressa. Foi o suficiente para ambos recuarem. O Batman voltou para o meu bolso, Walter desapareceu entre as pizzas, e eu ainda não sei ao certo se aquilo tudo aconteceu mesmo ou se o meu café da manhã estava vencido.
2. Grogu e as Ervilhas Mágicas
Estava eu ainda a digerir o confronto silencioso entre Batman e Walter White, quando o meu cérebro decidiu que já tinha visto tudo. Tão ingénuo que sou.
Seguimos para a secção dos legumes, porque o Cavaleiro das Trevas insistiu que “precisávamos de legumes para manter o disfarce de cidadãos normais” — não sei bem o que ele queria dizer com isso, mas pareceu-me lógico. E foi então, entre as ervilhas e brócolos, que o impensável aconteceu de novo.
Uma pequena figura verde, de orelhas pontiagudas e olhos gigantes, flutuava serenamente sobre um monte de ervilhas, com a mão estendida e uma expressão de quem meditava sobre o sentido da vida… ou sobre legumes.
Sim. Era ele. O Baby Yoda. Ou melhor — Grogu, mas ainda me custa a deixar o apelido carinhoso.

— Não mexas nas ervilhas, — murmurou ele com uma voz quase impercetível. — Estão em equilíbrio.
O Batman inclinou-se devagar no meu bolso. — Esse é um Jedi?
— É um bebé, — respondi.
— É mais poderoso do que parece, — murmurou o Funko, desconfiado.
Grogu abriu os olhos, flutuou até à nossa frente e pousou diretamente em cima de uma embalagem de ervilhas. Fez um pequeno aceno com a cabeça e estendeu a mão. A embalagem de waffles na minha mão... levitou. Sim. Levitou. Eu, claro, deixei cair o telemóvel.
— Está tudo bem, senhor? — perguntou um funcionário, aparecendo do nada. — Sim, sim — respondi, enquanto o Baby Yoda desaparecia sorrateiramente para trás dos legumes, deixando um leve cheiro a... menta? canela? não sei.
Saímos da secção como quem sobreviveu a uma tempestade cósmica. O Batman olhava para o chão, em silêncio, talvez a rever toda a sua formação. Eu apenas murmurava para mim mesmo: — Eu devia ter ficado em casa. Ou comprado online.
3. O Joker Entre as Courgettes
Mas não. A aventura não acabou ali. Porque a seguir, ainda no corredor dos legumes… encontramos o Joker! Estaria ele a observar a nossa conversa com o baby yoda?
O Batman congelou novamente no meu bolso, como um cão de guarda que pressente o inimigo. O Baby Yoda tinha desaparecido entre os espinafres, talvez por precaução. E eu… eu só queria comprar uma courgette.
— Ele está aqui, disse o Batman.
— Quem? — perguntei, já sabendo que ia arrepender-me.
— O Joker.
Olhei em volta. Nada. Só uma senhora com sacos de batatas e um puto a enfiar o dedo no nariz. Mas então… vi. Ali, entre os tomates e as cebolas, estava ele. O sorriso largo, a maquilhagem borrada, o olhar de quem acha que tudo é uma piada — mesmo quando não é.

— Ora, ora… olha quem decidiu sair para apanhar ar! — disse o Joker, com a sua voz esganiçada, teatral. — O morceguinho e o seu novo padawan de legumes!
O Batman saltou do bolso antes que eu pudesse impedi-lo. Pousou na prateleira dos tomates com pose de combate.
— Isto acaba aqui, Joker.
— Aqui? Entre os brócolos e os espargos? Meu Deus, Batman… que escolha refrescante!
As pessoas passavam. Olhavam. Ignoravam. Mais uma vez, a prova que as pessoas podem ver uma luta entre bonecos e mesmo assim continuar a comparar preços de couve coração. De repente, o Joker sacou de uma pequena bomba feita com... couves-de-bruxelas.
— Isto é uma bomba de flatulência intergaláctica, meu querido! — gritou ele, rindo como um louco.
— Isso não faz sentido nenhum! — gritei eu, já a recuar com o cesto na mão.
Mas o Baby Yoda reapareceu. Sem dizer uma palavra, ergueu a mãozinha e… PUM! A bomba voou pelos ares, envolta num brilho verde, e desintegrou-se antes de explodir. As couves caíram em câmara lenta como se estivéssemos num filme de Christopher Nolan. O Joker arregalou os olhos.
— Mas que raio de cogumelo mágico é este?!
— Grogu, — disse o pequeno ser, pousando no chão, — não gosta de gases tóxicos.
O Batman aproximou-se. — Desaparece, Joker. Isto é um supermercado pacífico.
— Bah! — gritou ele, antes de saltar para dentro de uma arca frigorífica e desaparecer com um “Mwahaha!” abafado entre douradinhos de peixe.
Eu fiquei ali, parado. Cansado. Com um cesto que já nem sabia o que tinha dentro. — Acabou? — perguntei. Grogu encolheu os ombros. Batman subiu novamente para o bolso.
— Por agora… — murmurou ele. Mas eu já estava decidido: Na próxima ida às compras… mando vir Uber Eats.
4. A secção dos Iogurtes Gregos
Depois de tudo — Joker nas cebolas, Baby Yoda nas ervilhas, e o Batman a sofrer uma pequena crise existencial na zona dos tomates — pensei: só quero um iogurte grego e cinco minutos de paz. Mas obviamente que não.
Dirigi-me à secção dos laticínios com passos cautelosos, como se estivesse a atravessar um campo minado. O silêncio parecia suspeito. O Batman mantinha-se quieto no bolso, Grogu dormia enrolado numa alface romana que tínhamos acidentalmente levado, e eu… eu ainda tentava lembrar-me por que raio não fiz as compras online. Foi então que o vi. Bem no centro da prateleira dos iogurtes gregos, empoleirado sobre uma embalagem de "iogurte grego natural com topping de granola": Geralt de Rivia.

Cabelos brancos, espada nas costas, olhar impassível e expressão de quem sabe que vai fazer uma piada seca a qualquer momento.
— Ugh, — grunhiu ele, encarando o rótulo do iogurte. — Mais mel. Sempre mel. Já ninguém aprecia um bom sabor amargo com notas de morte e tragédia?
— Estás aqui há muito? — perguntei, tentando manter uma conversa casual com um boneco de plástico em cima de laticínios.
— Longo o suficiente para testemunhar três provas de sabor e um casal a discutir se kefir é iogurte ou não.
O Batman saiu do bolso num salto. — Geralt.
— Morcego, respondeu Geralt, com um aceno. — Ainda a brincar aos super-heróis?
— Ainda a fazer voz de fumador trágico? — retrucou o Batman.
Pensei em interferir, mas fui interrompido por um som seco de garrafa de plástico a cair… seguido de uma voz esganiçada vinda da secção do leite sem lactose: — AQUI ESTÃO ELES! OS MEUS RIVAIS!
Sim. Era o Joker. De novo. De patins. Com um pacote de leite biológico na mão e um boné da Pescanova na cabeça.
— Tenho um plano, meus caros! Um plano de loucura cremosa! — gritou ele, apontando para as prateleiras. — E começa com um derrame de iogurte e termina com todos vocês afogados num tsunami de probióticos!
Antes que alguém reagisse, o Funko Pop Geralt já estava com a espada desembainhada (ok, tecnicamente moldada no corpo, mas vá, imagina o efeito dramático). — Mais um passo, palhaço, e faço iogurte de ti.
O Joker travou com os patins, escorregou num Actimel caído e voou direto para dentro de um cesto de promoção de gelatinas. Checkmate. Todos ficámos em silêncio. Até o Batman murmurou: — Foi… poético.
Geralt assentiu com solenidade. — O destino é assim: às vezes és o herói, às vezes és a sobremesa.
Apanhei o iogurte de mel. Peguei o Grogu adormecido. Pus o Batman de volta no bolso. — Chega. Vamos pagar. Antes que apareça o Funko Pop da Lady Gaga ou algo do género.
— Vamos embora, pessoal. Já chega por hoje.
Ou pelo menos… era o que eu pensava.
5. Clímax na Fila da Caixa
Porque na fila da caixa… estava o Deadpool a discutir com uma máquina de self-checkout. — O quê? NÃO aceitas moedas de chocolate?! Isso é DISCRIMINAÇÃO ALIMENTAR! — berrava ele, com os bracinhos erguidos, empoleirado em cima da balança da máquina.

A funcionária olhava para aquilo com a expressão exata de quem já viu três greves, um incêndio no micro-ondas e um cliente a tentar pagar em bilhetes da Raspadinha. — Senhor… boneco… coisa — disse ela. — Precisa mesmo de sair daí.
— Eu sou o Deadpool! Eu tenho direitos! Tenho cartão continente! E uma receita de brownies explosivos com recheio de sarcasmo!
O Batman sussurrou: — Ignora-o. Se lhe deres atenção, ele fica pior.
Geralt de Rivia, que entretanto se juntara à fila com um pack de iogurtes e uma revista de palavras cruzadas, apenas murmurou: — Esse é dos caóticos neutros. Muito pior que demónios. Não há lógica. Não há esperança.
Grogu soltou um pequeno bocejo e apontou para a caixa rápida como quem diz: “Ou vamos agora, ou este supermercado vai abaixo”. Tentei passar discretamente com os meus poucos produtos, mas Deadpool virou-se de repente para mim: — AH-HA! TU! Eu vi-te! Estiveste com o Joker nos legumes. Com o bruxo nos iogurtes. TU ÉS O ESCOLHIDO!
— Eu só queria waffles, mano. Mas já era tarde demais. Deadpool atirou-se da balança como um torpedo vermelho e caiu dentro do meu cesto de compras.
— Vamos para tua casa! Tenho ideias para um podcast, três receitas sem lactose e um roteiro de viagem com todos os Funkos rebeldes!
Olhei para a funcionária. Ela suspirou, passou os produtos com o ar de quem já não cobra mais taxa para trauma psicológico. No final, saí do supermercado com um saco de compras, um Funko Batman exausto, Grogu a dormir num pacote de espinafres, Geralt de Rivia a pedir boleia e Deadpool a gritar lá dentro: — ESTE FOI O MELHOR DIA DA MINHA VIDA!!!
Sim. E eu? Bom… eu jurei que nunca mais entrava num supermercado com os meus Funkos. (A menos que haja promoção nos gelados. Aí… talvez eu arrisque.)
Fim.